segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O primeiro manifesto do futurismo (1909): uma abordagem crítica

Por: Francisco Tarcísio da Rocha
Palavras-Chave: Futurismo, Manifesto, Marinetti, Modernismo.


Ao se iniciarem os anos de 1900, a Europa suportava a herança do final do século XIX, caracterizada por duas situações antagônicas, mas complementares: euforia exagerada diante do progresso industrial e dos avanços técnico-científicos e , contrastando com o clima eufórico da burguesia, também vamos encontrar o pessimismo característico do fim do século, representado pelo decadentismo simbolista.

Essa contradição gera um clima propício para a efervescência artística, favorecendo o aparecimento de várias tendências preocupadas com uma nova interpretação da realidade. A essa multiplicidade de tendências, os vários -ismos- Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo; convencionou-se chamar vanguarda européia, responsável por uma verdadeira inundação de manifestos (só o Futurismo lançou mais de 30), escritos entre 1909 e 1924, ou seja, durante a guerra e nos anos imediatamente posteriores.

O Futurismo, primeiro manifesto do movimento, foi publicado em 20 de fevereiro de 1909, assinado por Filippo Tommaso Marinetti. Apresentava como pontos fundamentais a exaltação da vida moderna, da máquina, da eletricidade, do automóvel, da velocidade e uma inevitável ruptura com os modelos do passado. Assim, vejamos alguns trechos:

__ Vamos, meus amigos! Disse eu. Partamos! Enfim a Mitologia e o Ideal místico estão ultrapassados. Vamos assistir ao nascimento do Centauro e veremos logo voarem os primeiros Anjos! __ É preciso abalar as portas da vida para nela experimentar os gonzos e os ferrolhos!... Partamos! Eis o primeiro sol nascendo sobre a terra!... Nada é igual ao esplendor de sua espada vermelha que se esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares.
(TELES, 1983)

Nesse trecho Marinetti conclama seus colegas a se aventurarem rumo ao novo; com coragem, sem medo de se desprenderem dos modelos do passado, tidos por ele como ultrapassados e mergulharem na nova maneira de expressar a arte.

Nós queremos glorificar a guerra -única higiene do mundo- o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher.
Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias. (TELES, 1983)


Essa proposta do manifesto Futurista tinha como objetivo se desprender do passado de forma radical, anárquica, livrando-se de tudo que lembrasse o antigo modelo e a arte clássica.

Em 1912, surge o Manifesto Técnico da Literatura Futurista, propondo “ a destruição da sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso, como nascem”, o uso de símbolos matemáticos e musicais e o menosprezo pelo adjetivo, pelo advérbio e pela pontuação.

É importante salientar dois aspectos muito relevantes do Futurismo: primeiro, a total identificação entre o movimento e seu líder, a ponto de se tornarem quase sinônimas as palavras Futurismo e Marinetti: segundo, a adesão de Marinetti ao Fascismo de Mussolini, a partir de 1919, dadas as evidentes afinidades ideológicas entre eles. Assim, apesar de seus seguidores apresentarem uma série de pontos em comum com o movimento de Marinetti, aceitavam suas idéias artísticas, mas repudiavam seu pensamento político.

O movimento futurista é muito amplo e não se restringiu apenas à arte. Na verdade, abrange vários campos da experiência humana, tendo participado da literatura, das artes plásticas, da música, dos costumes e da política.

No entanto, aqui no Brasil, o Futurismo se quer se constitui como movimento, nem mesmo gerou a publicação de uma revista, embora um fragmento do primeiro manifesto do Futurismo, de 1909, tenha sido publicado no jornal A República, em Natal.

Oswald de Andrade foi quem divulgou o termo em São Paulo, com o artigo “ Meu poeta futurista” sobre Mário de Andrade; no entanto, este discordou e, logo tratou de negar sua vinculação ao Futurismo. Pois, não queria ser associado às idéias de Marinetti, tendo o movimento pouca repercussão e adeptos aqui no Brasil.

BIBLIOGRAFIA

HELENA, Lúcia. Movimento da Vanguarda Européia. São Paulo: Scipione, 1993.

TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e Modernismo brasileiro. 8ª Ed.. Petrólis: Vozes, 1983.

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