segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O CUBISMO: ENTRE A DESTRUIÇÃO E A CONSTRUÇÃO

Nívia Sandra Ribeiro de Sousa CASTRO
UFPI – Campus de Picos
RESUMO: o objetivo deste artigo é conhecer um pouco mais sobre o Cubismo, um movimento vanguardista que teve seu apogeu entre 1907 a 1914. Para tal fim, se fez necessário basear-se em autores como TELES (1983), HELENA (1993), DE NICOLA (2006), FARACO e MOURA (1987) e OLIVEIRA (2003), que expõem de forma esclarecedora conceitos fundamentais para uma melhor compreensão do que vem a ser o movimento cubista, suas influências, características e contribuições para a arte de forma geral. Nesse trabalho discutiremos questões como a decomposição da arte já existente, em detrimento da recomposição de uma nova arte, dentro de uma perspectiva cubista que tem como principais características a geometrização das formas e volumes, renúncia à perspectiva, o claro-escuro perde sua função, representação do colorido sobre superfícies planas e sensação de pintura escultórica.

Palavras-chave: vanguarda, cubismo, decomposição, recomposição, formas geométricas.

INTRODUÇÃO

O movimento cubista ocorrido no início do século XX ambicionava criar um modo de expressão em que o artista fraciona o elemento da realidade que está interessado em representar e, depois, expressar através de planos superpostos e simultâneos. Sua característica fundamental é o ilogismo, o humor e uma linguagem mais ou menos caótica.

Os mais importantes nomes cubistas na pintura são: Picasso, Braque, Fernand Leger, Mondrian Delaunay. A literatura cubista foi inaugurada por Guiellaume Apollinaire que se preocupou com a construção física do texto, buscando valorizar o espaço da folha e a camada significante das palavras, negou a estrofe, a rima e o verso tradicional. Esse seria o embrião da nossa poesia concreta da década de 50.

Debateremos, nesse trabalho, a proposta do vanguardismo cubista que defende não apenas a técnica da destruição, mas acrescenta-lhe a técnica da construção.

CONTEXTO HISTÓRICO DO CUBISMO

Ao se principiarem os anos de 1900, a Europa suportava a herança do final do século XIX, caracterizada por duas situações opostas, porém, complementares: euforia exagerada diante do progresso industrial e dos avanços técnico-científicos e as conseqüências desse desenvolvimento no processo burguês-industrial. Havia uma disputa cada vez mais intransigente na busca pelo governo dos mercados fornecedores e consumidores, que resultaria na primeira Guerra Mundial. Dessa forma, em contraste com o clima eufórico da burguesia, era visível o pessimismo característico do final do século, manifestado através do decadentismo simbolista.

As primeiras décadas do século XX foram marcadas por um notável desenvolvimento científico e tecnológico. Muitas invenções e descobertas realizadas em 1900 a 1920 alteraram profundamente a face do mundo, criando um novo ritmo de vida. Mas esse progresso material foi acompanhado de graves agitações sociais e políticas, das quais a principal foi à eclosão do Primeiro Grande Conflito Mundial (1914-1918). Seus trágicos episódios marcaram o clima espiritual da época provocando um estado geral de angustia e inquietação.

De acordo com o relato de DE NICOLA (2006), todas essas contradições proporcionam um ambiente favorável à efervescência artística, propiciando o aparecimento de várias tendências preocupadas com uma nova interpretação da realidade. A essa multiplicidade de tendências, os vários – ismos – Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo – convencionou-se chamar de vanguarda européia, responsável por uma verdadeira inundação de manifestos, escritos entre 1909 e 1924, ou seja, durante a guerra e nos anos imediatamente anteriores e posterior.

Como vanguardistas passaram a ser definidos os artistas e intelectuais que, não satisfeitos com o que se produzia na época, buscaram novas formas de expressões artísticas, tanto na linguagem como na composição. A ruptura com o passado e a pesquisa de novos meios de expressão são as marcas registradas da arte no início do século XX. A ânsia de buscar novos caminhos explica o aparecimento de vários movimentos, principalmente nas artes plásticas e na literatura.

Foram várias as idéias que nortearam os principais movimentos dessa época. Entre elas encontramos o Cubismo, que se manifestou tanto na pintura como na literatura. Teve como principais características a geometrização das formas e volumes, renuncia à perspectiva, o claro-escuro perde sua função, representação do volume colorido sobre superfícies planas, sensação de pintura escultórica. De acordo com OLIVEIRA (2003), seguindo essa tendência, as figuras, reduzidas a formas geométricas apresentam, ao mesmo tempo, o perfil e a frente mostrando mais de um ângulo de visão.

O VANGUARDISMO CUBISTA

Nascido a partir das experiências de Pablo Picasso e de Georges Braque, o Cubismo desenvolveu-se inicialmente na pintura, valorizando as formas geométricas (cones, esferas, cilindros, etc) ao mostrar um objeto em seus múltiplos ângulos. Na explicação de HELENA (1993), a origem do nome cubismo diz-se ser derivado de um comentário do pintor Matisse que ao observar alguns quadros de Braque os teria denominado de “caprichos cúbicos”. A pintura cubista surgiu em 1907 com a tela Les Demoiselles d’Avignon, considerado o trabalho mais revolucionário de Picasso e conhecida como a primeira obra cubista. Após a Primeira Guerra Mundial é considerado seu declínio. A proposta cubista tinha como ponto central à liberdade que o artista deveria ter para decompor e recompor a realidade a partir de seus elementos geométricos.

Segundo Picasso: “O trabalho do artista não é copia nem ilustração do mundo real, mas um acréscimo novo e autônimo, a arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade”.

A primeira tela de Picasso Les Demoiselles d’Avignon foi influenciada pela cultura africana e ibérica. Nessa obra, o pintor retrata cinco mulheres de um bordel francês em poses sensuais. As duas mulheres no centro da tela têm expressões de andaluzas, sul da Espanha onde nasceu o pintor. As outras três tem feições que lembram máscaras africanas. A mulher que está sentada à direita no quadro pode ser vista como exemplo da ruptura com a forma de ver o mundo por uma única perspectiva, pois seu corpo é visto de costas e seu rosto, de frente.

Na literatura, o Cubismo teve seu início marcado por um manifesto que, para alguns, não chegava a ser um manifesto propriamente, mas apenas uma síntese, que foi assinado por Guillaume Apollinaire, publicado em 1913. Esse texto ficou famoso por representar a passagem do Futurismo para o Cubismo. As teorias e propostas do Cubismo foram expostas em livros, tanto na pintura como na literatura. Essa forma de literatura valoriza a proposta vanguardista de aproximar ao máximo as diversas manifestações artísticas, como a pintura, música, literatura e a escultura, preocupando-se com a construção do texto e ressaltando a importância dos espaços em branco e em preto da folha de papel e da impressão tipográfica. Essas características influenciaram o brasileiro Oswald de Andrade, na década de 1920, bem como a chamada poesia concreta da década de 1950.

Apollinaire defendia as “palavras em liberdade” e a “invenção de palavras” e propunha a “destruição das sintaxes já condenadas pelo uso”. O texto criado era marcado pelos substantivos soltos, jogados aparentemente de forma anárquica e pelo menosprezo por verbos adjetivos e pontuação. Outro ponto defendido é a utilização do verso livre e conseqüente negação da estrofe, da rima e da harmonia. Como ocorrem na pintura, a colagem e o reaproveitamento de outros materiais passaram a ser assimilado pelos textos poéticos. Aqui no Brasil, o movimento da poesia concreta faz a exploração do conceito da estética cubista. Isso pode ser observado no poema “AMORTEMOR”, de Augusto de Campos, como expõe em sua obra DE NICOLA (2006).

Os textos literários Cubistas aproveitam, de forma inteligente, os preceitos defendidos pelos futuristas. A diferença marcante entre esses dois movimentos é porque enquanto os futuristas defendem a destruição da arte existente, os cubistas vão além, pregando não só essa destruição, mas também, a reconstrução, criando uma arte nova e diferente. Essa idéia do construtivismo é uma inspiração que vem do francês Paul Cézanne, que em sua obra representa a natureza com formas semelhantes às geométricas, como explica TELES (1983).

A primeira fase cubista, conhecida como cezanniana, tem seu fim em 1910. Tem início então, a segunda fase chamada de analítica. Aqui inicia o cubismo propriamente dito. Nessa etapa, a forma do objeto é subordinada a superfície bidimensional da Terra, aproximando da abstração. Segundo texto de ALENCAR (2008) a fragmentação dos objetos é tanta que a identificação das figuras é quase impossível. Na terceira e última etapa, que se estende de 1912 a 1914, sendo denominada sintética, procura-se recuperar um pouco as formas, usando cores mais fortes e composições mais decorativas, preferindo formas arredondadas e menos angulosas. Fez-se uso de colagem introduzindo outros elementos na tela como letras, números, madeira, vidro, pedaços de jornais, entre outros.

CONCLUSÃO

Com base nas pesquisas bibliográficas, é fácil entender a essência do movimento cubista, que revelaria o nome mais importante da pintura do século XX, o espanhol Pablo Picasso que encontra no poeta francês Guillame Apollinaire seu principal porta voz. Em 1913 ele propõe “Literatura pura Palavras em liberdade Invenção de palavras”, pregando o abandono das formas literárias consagradas, dos modelos e dos padrões e incentivando a busca de técnicas ou ritmos renovados sem cessar.

Outro ponto relevante no cubismo é a apresentação dos objetos através de ângulos retos, planos geométricos e formas descontinuadas, proporcionando as pessoas que observam, várias formas de interpretação. O objeto pode ser compreendido de acordo com a perspectiva que está sendo observado, derrubando por terra o pensamento absolutista da coisa pregada pela arte existente na época. A crença na arte “retratista” é demolida pelo Cubismo. Como disse Max Jacob, um dos maiores poetas cubista: “a obra de arte vale por si mesma e não pela comparação que se possa fazer entre ela e a realidade”.

Diante de todo exposto, podemos observar que a partir desses movimentos vanguardistas a arte deu uma grande reviravolta. Se até aquele momento toda produção artística não seguisse os padrões considerados corretos, não era considerada arte. Esse movimento representa um grito de libertação, mesmo que tenham cometido exageros, não se pode negar que sua contribuição foi de suma importância para as mudanças ocorridas no campo artístico a partir daquela época. Aqui no Brasil, por exemplo, não é difícil perceber esses reflexos, principalmente no grande evento da Semana da Arte Moderna, onde de uma forma ou de outra pregavam também, essa ruptura com a forma existente de se fazer arte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 1983.

HELENA, Lúcia. Movimento de vanguarda européia. São Paulo: Scipione, 1993.

DE NICOLA, José. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal. São Paulo: Scipione, 2006.

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Minimanual compacto de literatura: teoria e prática. 1. ed. São Paulo: Rideel, 2003.

ALENCAR, Valéria Peixoto de. Arte sobre nova perspectiva. In: http://educação.uol.com.br/artes/ult1684U9.jhtm_47k. Acesso em 26 out. 2008.





2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns! muito bom.😍

Unknown disse...

Parabéns! muito bom.😍