segunda-feira, 24 de novembro de 2008

DADAÍSMO: O MOVIMENTO MAIS RADICAL DOS MOVIMENTOS DE VANGUARDA DO INÍCIO DO SÉCULO

José Geovânio Buenos Aires Martins-UFPI¹
Eu lhe digo: não há começo e nós não trememos, nós não somos sentimentais. Nós rasgamos, vento furioso, o linho das nuvens e das preces, e preparamos o grande espetáculo do desastre, do incêndio, da decomposição. Preparamos a supressão do luto e substituímos as lágrimas pelas sereias estendidas de um a outro continente. Pavilhões de alegria intensa e viúvos da tristeza o veneno. DDÁ é a insígnia da abstração; a propaganda e os negócios são também elementos poéticos. (Manifesto dadá, 1918).




Surgimento e significado do Dadaísmo
Este movimento foi fundado na Suíça, mais precisamente em Zurique, por volta de 1915 ou 1916², no período em que a primeira Guerra Mundial estava em pleno vapor. Possuía um caráter de negação e ênfase na destruição e anarquia de valores e formas. Para isto, tinham base no slogan de Bakunin: “A destruição também é criação”.

O líder dadaísta Tristan Tazra definia o movimento como “Dadá não significa nada”, já que encontrara, de uma forma inusitada, em um dicionário, o significado da palavra. Já para o escritor André Gide, “Dada é o divórcio após o qual tudo recomeça”, ou seja, para começar do nada teria que extinguir o que já existia.





² Alguns autores divergem quanto à data de 1915 ou 1916.

Tudo isto mostra que os dadaístas buscavam a destruição da arte acadêmica e tinham grande admiração pela arte abstrata. Repudiavam o bom senso e a seriedade. A maior prova disto é a receita que Tazra dá pra se fazer um poema dadaísta. Ele diz que deve-se pegar um jornal, recortar palavras, colocá-las em um saco, retirá-las e copiá-las conforme a ordem que for retirada. No fim de tudo isto, você terá um poema original e de sensibilidade graciosa.


Dadaísmo: palavras com significação contida no significado
Ao serem destruídas as hierarquias intelectuais, os escritores dadaístas caíram no irracionalismo, utilizando recursos como o do automatismo psíquico e explorando o mundo pré-lógico através das livres associações de palavras e metáforas, ou seja, faziam de suas criações uma linguagem própria que, ainda sem significado para muitos, para eles era a máxima da produção criativa e pessoal. Segundo Teles (1978,p.133),

Outros processos como o da visão simultânea e sucessiva, a ausência do rigor de unidade e coerência na mensagem, a destruição da linguagem, o sentido jogralesco do grupo e um desprezo total pela participação do leitor fazem da obra dadaísta uma obra completamente afastada do público que, já em 1916, na França, não conseguia acompanhar a linguagem dos novos poetas.


Como o texto acima diz, esta era uma arte estranha às pessoas, uma leitura incompreensível, sem significância alguma. Era mais uma explosão de idéias sem nexo para chamar a atenção no sentido de “desconstrução da realidade”. O próprio líder do movimento tinha este tipo de poesia como “atividade de espírito”.

O apogeu do movimento dadaísta foi o ano de 1920, quando o Cubismo perdeu sua força e a cultura francesa começou a se expandir. Ele costuma ser bastante identificado aos ready mades de Duchamp, como os urinóis elevados à categoria de obras de arte ou outras proezas do artista, como o acréscimo de bigodes à Mona Lisa. Os poemas non sense, as máquinas sem função de Picabia, que zombavam da ciência, ou a produção de quadros com detritos, como Merzbilder, de Schitters, são outras obras caracterizas do Dadaísmo.

Desde o início, o Dadaísmo pretendia ser um movimento internacional nas artes. Picabia era o artista que acabou por fazer a ponte entre o movimento na Europa e na América, tornando-se, junto com Duchamp e Man Ray, uma das principais figuras do Dadaísmo forte em New York. Além desta cidade, espalhou-se por Barcelona, Paris, Berlim, Colônia, Hangver. Um ponto importante desta expansão é que, ao chegar a Alemanha, o movimento teve um caráter mais social que artístico.

A fundação do Cabaret de Voltaire teve uma importância fundamental no movimento, já que era lá que os autores se reuniam para conversar, produzir, recitar poesias. Foi nele também que surgiram as duas mais importantes inovações dadaístas: o poema simultâneo e o poema fonético. O primeiro consiste na recitação simultânea do mesmo poema em várias línguas. O segundo, que foi desenvolvido por Ball, é composto unicamente por sons consonantais e vocálicos. Este com maior predominância.

Mas o Dadá não prendeu-se só a criações poéticas. O cinema e a fotografia também foram discutidos pelo movimento. Hans Rich e Man Ray são os principais representantes desta arte. Nas películas, o resultado era tanto abstrato, quanto absurdo, explorando imagens em movimento. Já na fotografia, Ray tirava fotos sem a câmera fotográfica utilizando a técnica do raiograma. A maioria destas produções faz parte dos anais da história da fotografia e do cinema artísticos.

Com uma arte tão “exótica”, o movimento não poderia durar muito tempo. O ano de 1922 foi o fim. Porém, alguns de seus representantes migraram para o Surrealismo.


Conclusão
Uma das características que marcou o Dadaísmo foi sua postura interdisciplinar dos trabalhos, afinal, poetas romancistas, artistas plásticos trabalhavam em conjunto. A combinação dos elementos foi importante para a definição da arte Dadá. Usando a subversão, o niilismo, a irreverência e a anarquia, o movimento acabou sendo uma arte rompedora, não só contra o status-quo, mas também com o conceito da própria arte, não apenas os seus princípios estéticos.

Um movimento radical que contestava tudo e todos. Uma vanguarda libertária e avassaladora, que tirou as amarras das artes. Criou, acima de tudo, os diálogos interdisciplinares e estabeleceu uma nova maneira de se enxergar o mundo.

¹Aluno do curso de Lic. Plena em Letras da UFPI-PICOS

Referências bibliográficas

HELENA, Lúcia. Movimentos da Vanguarda Européia. São Paulo: Scipione, 1993.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro: Vozes, 1978.

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